sexta-feira, 12 de junho de 2009

Por que a gente (alunos de Engenharia) é assim? O que podemos fazer?

Há um texto famoso, ao menos entre nós Engenheiros Eletricistas pela UEL, do Ênio Padilha, intitulado "Por que é que a gente é assim?". O texto está no blog da Elétrica da UEL e mostra muito bem pelo que passa um estudante de Engenharia. Acostumado a estar sempre entre os melhores da turma, ser sonhador e ter vontade de construir, ao entrar na faculdade leva um choque de desânimo, sensação de impotência e fica relegado a notas que tendem a zero. Posto aqui minhas considerações sobre o texto do Ênio Padilha e algumas ações ou comportamentos que podem ser adotados, já que o texto não tenta solucionar a questão deixando, a meu ver, um clima meio pessimista em suas conclusões.

Por tudo o que li, ouvi e vivi, só criticar nunca melhorou a vida de ninguém. Eu espero, assim, que a palestra do Ênio não seja apenas para expor de forma bonita as críticas ao sistema público de ensino que todos nós já sabemos, muito bem por sinal.

Macacos Velhos e Macacos Novos
Uma amiga me contou de uma história muito interessante sobre comportamentos herdados. Foi feita uma pesquisa com 4 macacos. Uma banana foi colocada em um lugar de alcance relativamente fácil para qualquer macaco. No entanto, toda vez que um macaco tentava pegá-la, os outros 3 levavam choque. Passado um tempo, toda vez que um macaco tentava pegar a banana, os outros 3 o espancavam. Então, trocaram 1 macaco velho por 1 macaco novo, que não conhecia as regras. O macaco novo, ao tentar pegar a banana, era, naturalmente, espancado. Então trocaram outro macaco velho. No final, havia 4 macacos novos que nunca tinham levado um choque sequer se espancando toda vez que um deles tentava pegar a banana.

Eu acredito que alguns professores se comportam como macacos velhos, e alguns jovens professores vão decidir se tornar como eles. Os professores, por terem sofrido muito na época de sua graduação, acabam achando que esse é o comportamento padrão: "ferrar com os alunos - esses folgados!", e perpetuam-no, ao invés de pensarem "não precisa ser assim". Professores universitários, por sinal, têm, na minha opinião, uma posição muito confortável. Em qual outra profissão o cargo de chefia pode ser rotativo para que todos possam ganhar o adicional? O professor que quer realmente realizar algo tem todas condições para fazê-lo na universidade: verbas, bolsas, bases de dados, contatos. Curiosamente, o professor que não quiser fazer nada também vai encontrar na mesma universidade todas as condições para isso.

Alunos Bons e Alunos Não-tão-bons-assim
Vou colocar também uma outra história que li no livro do Stephen Covey. Em uma universidade, no início do ano, um software classificava os alunos como bons ou ruins. Em uma turma eram colocados somente os classificados como bons, e em outra somentes os classificados como ruins. Um pesquisador inseriu um erro proposital no software de modo a classificar os alunos ruins como bons e os bons como ruins e ver o que acontecia. No final do semestre, os alunos classificados como ruins tinham apresentado rendimento melhor do que os alunos classificados como bons. Então perguntaram aos professores, "como foi o semestre?" Eles responderam "No início foi terrível. A turma não estava indo bem, mas quando olhávamos o software víamos que eles eram os alunos bons. Então acreditamos que havia algum erro no nosso método e fizemos algumas alterações até que eles obtiveram resultados melhroes". Sim, é possível! ("Yes We Can!")

No entanto, a boa vontade dos professores não é algo que está ao nosso alcance, não é algo que nós podemos controlar, embora possamos influenciar e tentar. É difícil, eu já tentei e do jeito que eu fiz não funcionou e acabou gerando apenas desgaste em um arrependimento de minha parte, mas não digo que é impossível. Se a palestra for apenas para criticar os professores, então esse encontro, a meu ver, vai acabar sendo apenas um fórum de desabafo, em que vamos apenas ganhar 1 minuto de conforto quando expormos nossos sofrimentos, e então voltaremos ao mesmo sofrimento dia após dia ao sairmos de lá.

O Que Podemos Fazer
Portanto, eu acredito que a melhor saída á atuarmos dentro do nosso círculo de influência, dentro daquilo que podemos controlar, e gradualmente aumentar nosso círculo. Algumas saídas, na minha opinião, são:

1) Criar um profundo respeito pelo processo de aprendizado e encontrar o que funciona para você
Todos nós somos diferentes, e é aí que está a beleza do mundo. Cada um aprende de um jeito, escrevendo, lendo, falando, repetindo. Além disso, há diversas formas diferentes de explicar e ouvir algo. E há uma grande diferença entre estudar e aprender. O que eu percebo nas pessoas que vão bem no curso é que elas não se importam tanto em estudar, mas se importam em aprender. E quando não entedem algo, isso vira um desafio e elas ficam loucas para tentar resolver - vão ver nos livros, perguntam para os amigos e perguntam, sim, para o professor, que quando está com tempo tenta explicar ou indica alguma referência. Mas se alguém chegar lá e dizer "professor, me explica tudo que eu não sei nada", vai deixar a impressão de folgado, mesmo que não seja, o que cria repulsa do professor. É natural, ele foi condicionado assim.

2) Criar um respeito sincero pelo professor e compreender realmente quais são suas necessidades, inclusive emocionais
Embora alguns professores digam que nós aprendemos sozinhos, estudando em casa, eles podem ser de grande ajuda. E muitas vezes um comportamento agressivo vem de uma falta de atenção (quem tem namorada deve saber isso). Não importa se o professor é bom ou ruim, legal ou carrasco, nós não podemos mudá-lo da água para o vinho, do dia para a noite. Mas podemos escolher como reagimos ao comportamento dele. Podemos responder com agressividade e realimentar o processo, ou podemos tentar compreender e reverter o processo. Segundo Covey, compreender suas idéias e explicações explicando-as melhor do que eles. No CEFET de Cornélio nós tínhamos um professor meio mala, de quem poucos gostavam. No ano seguinte, minha irmã e as amigas delas, uma vez, por brincadeira e por aventura, deram um bolo de aniversário pra ele e cantaram parabéns na sala dele. Ele disse "nossa, nunca ninguém fez isso pra mim". No dia seguinte ele levou uma bandeja de brigadeiros na sala. Isso é história real. Como vocês acham que ficou o relacionamento entre professor e turma depois disso?

3) Estabelecer contatos, como alunos, com entidades fora da Universidade, expandir nosso universo de atuação
Os professores têm dificuldade de estabelecer contato com o mercado, não é falta de vontade, é uma dificuldade mesmo. Há diferenças no estilo de comunicação, ao que dar valor ou ou não, no processo de desenvolvimento. Sabe quem conseguiria entender os dois? Nós. Imaginem que pesquisas poderiam ser feitas no DEEL, imaginem quantos estágios poderiam ser feitos, quantas coisas poderiam ser feitas simultaneamente e em conjunto, quantos produtos seriam desenvolvidos no DEEL se houvesse uma relação mais próxima com entidades fora da Universidade. E esse vínculo não depende só da boa vontade de professores. Nós, como alunos, amigos, filhos, primos, sobrinhos, Empresa Júnior e Centro Acadêmico podemos ajudar.

4) União, colaboração e benefício comum
Ajudem-se. Na Unicamp, quando um professor é uma droga, os alunos se juntam, estudam por si, ensinam uns aos outros e todo mundo sai feliz - e o melhor, autoconfiantes. Se o professor é realmente ruim, e não consegue melhorar, podemos negociar uma aula tira-dúvida e encarar a realidade, há muitas opções, quando estamos unidos e voltados para o benefício comum.

5) O que você quer para a sua vida?
Como você quer ser lembrado? Que realizações, conquistas você quer? Que contribuições você quer deixar para o mundo? Quais são seus valores? Como você quer estar daqui 15 anos? Nosso curso é um curso técnico. Se você quer ser empresário, você tem que fazer a parte técnica e fazer a mais - cursos, empresa júnior -, se você quer ser pesquisador, você tem que fazer a mais - iniciação científica, mestrado. O importante é dar o seu melhor naquilo que você escolher. Não existe profissão de sucesso, existe profissional de sucesso. Mas se você quer ser advogado, não importa quão bem você se dê na Engenharia, você vai ter que fazer Direito - no bom sentido.

Fico aberto a quaisquer questionamentos. Mandem por email, postem aqui, sei lá. Discutindo chegamos a idéias melhores.

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