sábado, 13 de junho de 2009

HBR: Peter Bregman - Como se Conter e Como Usar o Estresse a seu Favor

Li um artigo muito bom na HBR (Harvard Business Review - blogs.harvardbusiness.org) do Peter Bregman, "How to Teach Yourself Restraint", que seria algo como "Como se Ensinar a se Conter".

Quando sua filha Isabelle de 7 anos começou a chorar no começo da manhã porque seu irmão mais novo de 2 anos Daniel lhe tirou as canetinhas com que desenhava, Peter usou o discurso típico de pai: "Ele tem só dois anos docinho; o desenho já está bonito assim; você precisa parar de desenhar de qualquer forma, é hora do café da manhã; você tem um monte de outras canetinhas; OK, já chega - pare de chorar". Nada deu certo. Então Peter se lembrou de uma pesquisa que tinha lido. E perguntou: "Isabelle, essa é a nova camiseta que você está usando?". "Sim", ela respondeu, ainda chorando. "E quem é essa pessoa na frente?" Ela olhou a sua camiseta e disse "Obama." E não estava chorando agora. "O quê? Não mesmo. É uma mulher! O Obama usa um colar de pérolas?", Peter perguntou. Isabelle riu.

A Pesquisa do Marshmallow
A pesquisa que Peter lembrou é um famoso experimento conduzido em crianças de 4 anos nos anos 60 por Walter Mischel. Ele colocou um marshmallow em uma mesa em frente a uma criança e disse que precisava sair da sala por alguns minutos. A criança podia comer um marshmallow, mas se ela esperasse até que ele retornasse ele lhe daria 2 marshmallows. Então ele saiu e deixou uma câmera escondida filmando a criança. Ele estava interessado em saber o que permitia algumas crianças a postergar a gratificação enquanto outras se rendiam a elas. Conforme descoberto posteriormente, as crianças que conseguiram aguardar os 20 minutos e receberam 2 marshmallows tinhas melhores relacionamentos, eram mais seguras e até tiravam notas melhores do que as crianças que não conseguiram resistir ao marshmallow.

Joachim de Posada repetiu o experimento na Colômbia. Repetindo os resultados de Mischel, 2 de cada 3 crianças comiam não resistiam ao marshmallow. Ele ainda reforça que postergar a gratificação, a autodisciplina, é a habilidade mais importante para o sucesso em qualquer área. Um vendedor que em vez de fechar a venda logo para e analisa, "vamos ver se isso é realmente o melhor para você", vende mais. Seus comentários estão no TED, em um vídeo de 5 minutos.

Qual era o segredo das crianças que resistiram? As crianças tinham mais força de vontade? Mais disciplina? Talvez elas não gostassem tanto de doce? Ou tinham medo da autoridade? Nada disso. Era uma técnica, a mesma que Peter usou com Isabelle.

Distração.

Em vez de focar em não comer o marshmallow, as crianças cobriam seus olhos, sentavam de baixo da mesa ou cantavam uma canção. Elas não resistiam ao impulso, elas simplesmente o evitavam.

Os Desafios do Comportamento
Enfrentamos dois desafios quando tentamos gerenciar nosso comportamento: o desafio da iniciativa - fazer exercícios, uma ligação, trabalhar mais uma hora na apresentação - e o desafio da contingência - não comer aquele bolo, não falar tanto naquela reunião, não gritar, não resolver o problema do empregado por ele. Se somos bons no desafio da iniciativa, significa que somos bons nos aplicando, focando, quebrando resistências usando a força de vontade, ou seja, somos bons em evitar distrações. Isto, como mostrado pelo experimento, é exatamente o que nos leva a falhar no desafio da contingência. Focar em resistir à tentação só torna mais difícil resistir. No caso de comer o bolo, focar em não comer usando a força de vontade só torna mais provável que comeremos o bolo. É como dizer não pense em um grande elefante branco. Impossível, certo? O truque é se distrair focando-se inteiramente em outra coisa.

A regra é simples: quando você quer fazer algo, foque. Quando não quiser fazer algo, distraia.

A distração é vista como algo negativo, que nos atrapalha em atingir nossos objetivos. O foco, por outro lado, é visto como positivo e ativo, algo que você faz para atingir seus objetivos. Mas a habilidade da distração é importante hoje mais do que nunca. Vivemos em uma era de medo - gripe suína, terrorismo, aquecimento global, sequestros, a economia - que reduz nossa produtividade e destroi nossa saúde, relacionamentos e felicidade. Infelizmente, quanto mais temos medo mais lemos sobre a fonte do medo em uma tentativa de nos proteger. A solução? Distração. Leia um bom livro, assista a um filme, brinque com uma criança de 4 anos, cozinhe com os amigos, faça uma caminhada, se jogue no trabalho. A distração é, de fato, a mesma coisa que foco. Para se distrair de X você precisa focar em Y.

Reação ao Stress
Em outro artigo, Peter comenta sobre o stress. Seu amigo sempre lhe envia diversos artigos sobre economia e, mesmo isto não levando a nenhuma mudança em suas ações, ele continua os lendo. Primeiro porque o próximo artigo pode dar algum insight que outros não deram - o segredo de sair bem da crise. Segundo porque buscar esse insight nos dá uma sensação de conforte e controle. Dá algo para fazer. Estamos lendo, estamos pensando, discutindo, desenvolvendo opiniões. Isto faz com que nos sintamos melhor. É nossa Reação ao Estresse, o que nós fazemos para nos gerenciar em períodos duros de stress. E não é um evento estressante em particular, como uma discussão, mas o tipo de estresse corrente que é impossível de apontar ou colocar em um evento ou pessoa em particular.

Como você responde à sua vida estressante? Qual a sua Reação ao Estresse? Peter cortou seu cabelo bem curto. Por curiosidade, quando olhou suas fotos antigas para ver em que situações cortou seu cabelo bem curto foram quando ele começou seu negócio, durante a crise .com e próximo dos nascimentos de seus 3 filhos. Cortar o cabelo curto era uma de suas Reações ao Estresse. Isto dava uma ilusão de controle, assim como toda vez em que ele tinha uma grande proposta para escrever - no primeiro dia ele sempre limpava a casa.

Reações Destrutivas
A Reação ao estresse pode ser uma ferramenta útil para manter o foco e manter a habilidade para se mover em tempos de incerteza. Uma sensação de controle não tem valor quando nos falta o controle real. Algumas Reações ao Estresse são destrutivas, aumentam nosso estresse ao invés de reduzi-lo. Um exemplo de reação destrutiva é o microgerenciamento. Para aumentar as vendas, um gerente pressiona sua equipe a fazer mais relatórios, faz sugestões para tudo e . Gastando tempo escrevendo relatórios a equipe de vendas deixa de vender, sente-se frustrada, impotente, insegura, o número de vendas cai e o estresse acaba aumentando, aumentando a Reação ao Estresse e assim por diante. Outra reação destrutiva é a retirada (abstensão, withdrawal). Deixamos de nos envolver, ficamos indiferentes, ocupados com outras coisas. Nos escondemos nos escritórios, evitamos nos comunicar. Uma terceira reação é ficar competitivo demais. O que pode ser feito com relação a reações destrutivas?

Pare.

Sente-se, desligue o computador, respire fundo e pergunte-se "Como eu estou lidando com o estresse?" Tente reconhecer sua tendência ao estresse. Como você reage? Se não sabe ao certo, pergunte às pessoas ao seu redor. Eles saberão. Então pergunte-se se isso ajuda ou faz mal. Se ajuda, continue, coloque-a no seu processo. Mas se faz mal, então respire fundo outra vez e tire uma folga. Ficar frustrado só vai fazê-lo se sentir pior, e ficar frustrado por ficar frustado consigo mesmo vai fazê-lo ainda pior.

O bom é que perceber sua Reação ao Estresse é tudo o que você pode fazer conscientemente. O resto na maioria das vezes cuida de si mesmo. Uma vez que você perceba isso, você automaticamente começará a mitigá-lo. E você não precisa necessariamente parar o comportamento completamente. Algumas reações podem até ajudar mesmo que se demais podem atrapalhar. Apenas lembre-se de parar. E perceber.

Um comentário:

  1. Muito Interessante.

    Parabéns. Cheguei aqui pelo Google e uma pesquisa sobre Stress da HBR.

    Mas esse artigo ajudou bem mais.

    Abs,

    Leonardo Simões

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