terça-feira, 30 de junho de 2009

TED: Ray Anderson - Lógica de Negócios da Sustentabilidade



Posto aqui um resumo do discurso de Ray Anderson, citado por Schwartz, na conferência do TED. O vídeo foi colocado no site DotSUB, no qual legendas em diversas línguas são adicionadas de forma colaborativa.

Responsável mas Pervasivo e Poderoso
O maior culpado pela degradação da biosfera terrestre é o mundo é o negócio e a indústria. Paul Hawkings, no livro "The Ecology of Commerce", responsabiliza a indústria e o negócio como: primeiro, o maior culpado em causar o declínio da biosfera. E, segundo, como a única instituição é é grande o suficiente e pervasiva e poderosa o suficiente para realmente liderar a humanidade para fora dessa desordem. Então, Anderson desafiou as pessoas de sua empresa, Interface, que fabrica tapetes, a liderar a empresa e todo o mundo industrial para a sustentabilidade, o que foi definido como operar uma empresa baseada intensamente em petróleo de tal forma a retirar da Terra somente o que pudesse ser renovado pela Terra natural e rapidamente, nenhuma gota de óleo a mais. Não tirar nada. Não agredir. Anderson pensava: "Se Hawkins está certo e o negócio e a indústria deve liderar, quem liderará o negócio e a indústria? A não ser que alguém faça, ninguém o fará".

A Mudança
Roubo é crime. Roubar o futuro das crianças também seria crime algum dia mas, para isso, deveria haver uma alternativa claramente demonstrável ao sistema industrial pegue-faça-desperdice que domina a civilização e rouba o futuro das crianças, escavando a Terra e convertendo-a em produtos que rapidamente se tornam desperdícios em um aterro ou incinerar. Sucintamente, escavando a Terra e convertendo-a em poluição. De acordo com Paul e Anne Ehrlich, o impacto ambiental é gerado pelos pessoas, pelo que elas consomem em sua abundância, e em como ela é produzida. Uma equação foi proposta por eles, I = P x A x T, ou seja, o impacto é o produto de pessoas vezes afluência vezes tecnologia. Anderson quis fazer com que T no numerador, que aumenta o impacto, fosse colocado como denominador, reduzindo o impacto. Para isso, pesquisou as características de T1.

Estas características são as características da primeira revolução industrial:

  • Extrativa - Tirando matéria prima do mundo
  • Linear - Pegar, fazer, gastar
  • Impulsionada por combustíveis fósseis
  • Desperdiçadora - Abusiva e focada na produtividade da mão-de-obra, mais tapetes por homem-hora
Todas essas características deveriam ser mudadas para mover T para o denominador:

  • De extrativa para renovável
  • De linear para cíclica
  • De energia de combustíveis fósseis para energias renováveis
  • De cheia de desperdícios para livre de desperdícios e
  • De abusiva e focada na produtividade de mão-de-obra para benigna e focada na produtividade de recursos
Sustentabilidade como Negócio
Nos 12 anos desde então, A Interface atingiu 82% de redução absoluta líquida de gases de efeito estufa, as vendas aumentaram dois terços e o lucro dobrou, resultando em 90% de redução na intensidade de gases de efeito estufa relacionado a vendas - o necessário para evitar o colapso climático. O uso de combustíveis fósseis diminui 60% por unidade de produção devido a eficiências em fontes renováveis - o mais barato e seguro barril de óleo é o que não é usado por meio da eficiência. O uso de água caiu 75%, 74.000 toneladas de tapetes foram retiradas de aterros fechando o ciclo do fluxo de material por meio de logística reversa e tecnologias de reciclagem pós-cliente que não existiam quando a Interface começou há 14 anos. Estas novas tecnologias cíclicas contribuiram fortemente para a venda de 80 milhões de metros quadrados de tapetes ambientalmente neutros, o que significa nenhuma contribuição líquida para a crise ambiental na produção de tapetes pela cadeia de proução, desde as minas até a recuperação no fim de vida. E isto tem sido um poderoso diferencial de mercado, aumentando vendas e lucros.

A missão de reduzir para zero nosso impacto ambiental se revelou incrivelmente boa para os negócios. Um modelo de negócios melhor, uma melhor forma para lucros maiores. Aqui está um case para a sustentabilidade. A partir da experiência da vida real, custos estão baixos, não altos, refletindo alguns US$ 400 milhões de custos evitados na busca de desperdício zero. Isto pagou todos os custos para a transformação da Interface. E isto dispersa um mito, o da falsa escolha entre o meio ambiente e a economia. Nossos produtos estão melhores do que nunca, inspirados pelo desenvolvimento para sustentabilidade, um manancial inesperado para inovação. Nossas pessoas estão galvanizadas em torno deste propósito maior compartilhado. Não se pode vencer isto para atrair as melhores pessoas e integrá-las. E a boa vontade do mercado é espantosa. Nenhuma quantia de propaganda, nenhuma campanha de marketing inteligente a qualquer preço, poderia ter produzido ou criado toda essa boa vontade. Custos, produtos, pessoas, mercados. O que mais há aí? É um modelo de negócios melhor. Entre 2001 e 2003, as vendas caíram 17%. Mas o mercado havia caído 36%, nós literalmente ganhamos participação de mercado. Nós poderíamos não ter sobrevivido àquela recessão não fosse as vantagens da sustentabilidade.

Todos Podem
Se todos os negócios seguissem os planos da Interface isso resolveria todos os nossos problemas? Anderson acredita que não. A equação de Ehrlich sugere que a abundância é um fim em si. Mas se reformularmos a afluência para sugerir que ela é um meio para um fim, e que este fim é a felicidade, mais felicidade viria com menos coisas. Isto permitiria que a sociedade se reformulasse assim como todo o nosso sistema econômico, se não para nossa espécie, então para a que nos suceder. Como disse Amory Lovins, "Se algo existe, deve ser possível". Se conseguimos fazer de verdade, deve ser possível. Se a Interface, uma empresa baseada em petróleo, consegue fazê-lo, qualquer um pode. Se qualquer um pode, então todo mundo pode.

Com o declinio da biosfera, uma pessoa muito querida está em risco. Um risco inaceitável. Quem é ela? Não eu. Não você. Mas a criança de amanhã do poema "Tomorrow's Child" de Glenn Thomas, uma mensagem simples porém profunda. Nós somos, todos e cada um, uma parte da rede da vida. O continuum da humanidade, certamente. Mas em um sentido maior, a rede da vida em si. E nós temos uma escolha a fazer durante nossa breve visita a esse belo mundo vivo verde e azul. Feri-lo ou ajudá-lo. Para você, é sua chamada.

Resumindo
- O negócio e a indústria são, primeiro, o maior culpado em causar o declínio da biosfera. E, segundo, a única instituição grande o suficiente e pervasiva e poderosa o suficiente para realmente liderar a humanidade para fora dessa desordem
- A não ser que alguém faça, ninguém o fará
- É possível mudar o sistema de produção atual, que se baseia em escavar a Terra e criar poluição:
- De extrativa para renovável
- De linear para cíclica
- De energia de combustíveis fósseis para energias renováveis
- De cheia de desperdícios para livre de desperdícios e
- De abusiva e focada na produtividade de mão-de-obra para benigna e focada na produtividade de recursos
- É um modelo de negócios melhor - a Interface poderia não ter sobrevivido à recessão não fosse as vantagens da sustentabilidade
- Mas se reformularmos a afluência para sugerir que ela é um meio para um fim, e que este fim é a felicidade, mais felicidade viria com menos coisas
-
Se a Interface, uma empresa baseada em petróleo, consegue fazê-lo, qualquer um pode. Se qualquer um pode, então todo mundo pode
-
E nós temos uma escolha a fazer durante nossa breve visita a esse belo mundo vivo verde e azul. Feri-lo ou ajudá-lo

quinta-feira, 25 de junho de 2009

TED: Escolas Matam a Criatividade - Ken Robinson


Link do vídeo no TED


Ken Robinson fala com muita propriedade e humor sobre a criatividade, as características da inteligência e o nosso sistema educacional. Robinson diz a educação desperta o interesse de todos, porque é a educação que tem por significado preparar as pessoas para um futuro que não podem agarrar. E é curioso que as crianças que entram na escola hoje vão se aposentar em 2065, e ninguém pode prever o nosso futuro sequer em 5 anos. Ou seja, nós temos que educar para um mundo que irá mudar e que nós não conhecemos.

As Crianças
Segundo Robinson, as crianças têm capacidades realmente extraordinárias para inovação. Todas as crianças têm tremendos talentos e nós os esbanjamos, muito impiedosamente. A criatividade é tão importante quando a alfabetização, e ambas devem ser tratadas com o mesmo status. Uma professora observava as crianças de sua turma desenhando. Havia uma menina que era muito distraída e neste dia trabalhava intensamente. A professora, curiosa, perguntou o que ela desenhava. A menina respondeu: "Estou desenhando Deus". A professora parou e disse: "Mas ninguém sabe como é Deus". Sem piscar e sem levantar os olhos a menina respondeu: "Saberão em um minuto". As crianças vão aproveitar a chance. Se elas não souberem como, vão ter algo. Elas não têm medo de estarem erradas e, embora errado é diferente de criativo, se você não está preparado para estar errado você nunca surgirá com nada original. Quando adultos, a maioria das crianças perdeu esta capacidade. Ficam com medo de estarem erradas. Nossa sociedade estigmatiza o erro como a pior coisa que alguém pode fazer e, com isso, educa retirando a criatividade. Picasso dizia: "Todas as crianças nascem artistas. O problema é se manter artista enquanto cresce". Nós não crescemos em criatividade (grow into creativity), nós crescemos para fora da criatividade (grow out of creativity). Nós somos educados para fora da criatividade.

A Hierarquia do Sistema Educacional
Todo sistema educacional na Terra tem a mesma hierarquia de assuntos. No topo, Matemática e Línguas, depois as ciências Humanas e por último as Artes. E dentro das Artes também há uma hierarquia, com Arte e Música no topo então Drama e Dança por último. Dança também é importante. As crianças dançam o tempo todo se deixarem. Na verdade, o que acontece é que, conforme a criança cresce, começamos a educá-la progressivamente da cintura para cima, e então focamos nas suas cabeças, e levemente para um lado. O propósito do sistema educacional é, basicamente, formar professores universitários. Antes do século XIX, não havia nenhum sistema público de ensino. O sistema público de ensino surgiu após a Revolução Industrial para atender as necessidades do Industrialismo. Assim, a hierarquia do sistema foi enraigado com 2 idéias:

1 - Asuntos mais úteis para o trabalho no topo
As pessoas não poderiam fazer o que gostavam, pois nunca iriam conseguir um emprego fazendo aquilo - para que fazer música, você nunca será músico! Um conselho afável, mas profundamente enganado. O mundo todo está envolto em revolução

2 - Habilidades acadêmicas
As universidades desenvolveram o sistema de ensino à sua imagem. E as habilidades acadêmicas são a visão dominante de inteligência. Todo o sistema público de ensino é prolongado para o processo de entrada na universidade. Pessoas altamente talentosas acham que não o são porque as áreas nas quais são bons não foram valorizadas, foram na realidade estigmatizadas. Crianças com títulos estão indo para casa para continuar jogando videogame, um emprego agora requer mestrado e outro doutorado, levando a uma inflação acadêmica. Nós temos que repensar a forma como vemos a inteligência.

Inteligência
Robinson diz que há 3 coisas que sabemos sobre a inteligência:

1. Ela é Diversa
Nós pensamos sobre o mundo em todas as formas em que o experimentamos - visualmente, em som, cinestesicamente, em termos abstratos, em movimento.

2. Ela é Dinâmica
A inteligência é interativa, o cérebro não é dividido em compartimentos. A criatividade, definida como o processo de ter idéias originais que possuem valor, mais frequentemente surge por meio da interação de formas disciplinarmente diferentes de enxergar as coisas.

3. Ela é Distinta
Robinson escreveu um livro chamado "Epiphany", em que faz uma série de entrevistas para saber como as pessoas descobriram os seus talentos. A idéia do livro surgiu após uma conversa com Gillian Lynne. Gillian Lynne é autora de "Cats" e "O Fantasma da Ópera". Quando estava na escola, ela estava realmente sem esperanças. A escola, na década de 30, escreveu para seus pais e dizendo "achamos que Gillian tem um distúrbio de aprendizado". Ela não conseguia se concentrar, ficava se remexendo. Ela foi se encontrar com um especialista. Ela estava lá com sua mãe e ficou sentada em uma cadeira no final e ficou de braços cruzados (sat on her hands) por 20 minutos enquanto aquele homem falava com sua mãe sobre todos os problemas que Gillian estava tendo na escola. No final, como ela estava perturbando as pessoas, seu dever de casa estava sempre atrasado. No fim, o médico sentou-se perto de Gillian e disse "Gillian, eu ouvi todas essas coisas que sua mãe me contou, e eu preciso conversar com ela em particular. Espere aqui, nós estaremos de volta, não demoraremos muito" e então saíram e a deixaram. Buas quando saíam da sala, ele ligou o rádio que estava na sua mesa. E quando eles saíram da sala, ele disse à sua mãe "Apenas espere e veja-a". E no minuto que eles saíram da sala, ela disse, ela estava sobre os pés, movendo-se com a música. E eles a assistiram por alguns minutos e ele se virou para sua mãe e disse "Sra. Lynne, Gillian não está doente, ela é uma dançarina. Leve-a para uma escola de dança". Gillian disse "Minha mãe me levou. Não posso dizer o quão maravilhoso isso foi. Nós entramos naquela sala e estava cheia de pessoas como eu. Pessoas que não conseguiam ficar paradas. Pessoas que tinham que se movimentar para pensar". Ela fez balé, sapateado, jazz, fez o teste para a Escola Real de Balé, se tornou solista, se formou e formou sua própria companhia. É responsável por algumas das produções musicais de teatro mais bem sucedidas da história, encantou milhões de pessoas e é multimilionária. Outra pessoa poderia tê-la medicado e dito para ela se acalmar.

O que Fazer
Nossa única esperança para o futuro é se adaptar a um novo conceito de ecologia humana, uma na qual comecemos a nossa concepção da riqueza da capacidade humana. Nosso sistema educacional minou nossas mentes de forma que nós minamos a Terra: para uma commodity em particular. E para o futuro, isto não nos servirá. Nós temos que pensar nos princípios fundamentais sobre os quais estamos educando nossas crianças. Jonas Salk disse: "Se todos os insetes desaparecessem da Terra, em 50 anos toda vida na Terra acabaria. Se todos os seres humanos desaparecessem da Terra, em 50 anos todas as formas de vida prosperariam".

O TED celebra o dom da imaginação humana. Nós temos que ser cuidados agora para usarmos sabiamente esse dom, e impedir alguns dos cenários sobre os quais discutimos. A única forma de fazermos isso é enxergando nossas capacidades criativas com a riqueza que elas são, e vendo nossas crianças com a esperança que elas são. E nossa tarefa é educar todo o ser delas, para que elas possam enfrenter este futuro. Nós podemos não ver esse futuro, mas elas verão. E nossa função é ajudá-las a fazer algo dele.

Resumindo
- Nós temos que educar para um mundo que irá mudar e que nós não conhecemos.
- A criatividade é tão importante quando a alfabetização, e ambas devem ser tratadas com o mesmo status
- Se você não está preparado para estar errado você nunca surgirá com nada original
-
Nossa sociedade estigmatiza o erro como a pior coisa que alguém pode fazer e, com isso, educa retirando a criatividade
-
O sistema público de ensino surgiu após a Revolução Industrial para atender as necessidades do Industrialismo
- Os asuntos mais úteis para o trabalho ficaram no topo
- Valoriza-se somente as habilidades acadêmicas e pessoas altamente talentosas acham que não o são porque as áreas nas quais são bons não foram valorizadas, foram na realidade estigmatizadas.
- A inteligência é diversa, dinâmica e distinta
- Diversa - nós pensamos sobre o mundo em todas as formas em que o experimentamos - visualmente, em som, cinestesicamente, em termos abstratos, em movimento
- Dinâmica - a inteligência é interativa, o cérebro não é dividido em compartimentos
- Distinta - pessoas que têm que se movimentar para pensar
- Temos que
enxergar nossas capacidades criativas com a riqueza que elas são, vendo nossas crianças com a esperança que elas são. E nossa tarefa é educar todo o ser delas, para que elas possam enfrenter este futuro.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

TED: A Perda da Sabedoria - Barry Schwartz



Link do Vídeo - Legendado em Português

Posto aqui um resumo da transcrição de outra palestra do Barry Schwartz, no TED, sobre moralidade e sabedoria. Regras e incentivos podem nos limitar ou nos corromper, afetando nossa preocupação com a inovação ou com o que é certo. Devemos ter sabedoria prática, saber quando e como abrir exceções para fazer o que é certo, do jeito certo pelas razões certas. Ensinar nossos filhos a ter caráter, respeito por si, pelos outros e pelo ato de aprender, deve ser o maior objetivo. Vamos celebrar os exemplos de moralidade e auxiliar, a nós e aos outros, a criar sabedoria em vez de suprimi-la.

Lição de Sabedoria dos Faxineiros
"Na descrição de trabalho de um faxineiro no hospital, todos os itens, como limpar o chão, varrer, colocar estoques de produtos nos armários, são normais. Mesmo sendo uma lista muito longa, surpreendentemente não há nela um único item que envolva outros seres humanos. Nem um único. O trabalho do faxineiro poderia muito bem estar sendo feito num necrotério ao invés de num hospital. Quando os psicólogos entrevistaram os faxineiros do hospital, encontraram Mike, que contou como parou de limpar o chão porque o Sr. Jones estava fora da cama se exercitanto, tentando ficar mais forte caminhando lentamente pelo corredor. E Charlene, que ignorou a recomendação de seu supervisor e não passou aspirador na sala de visitantes porque havia familiares de paceientes que estavam no hospital todos os dias durante todo o dia e que, neste momento, estavam lá tirando uma soneca. O comportamento destes faxineiros não só faz as pessoas se sentirem um pouco melhor, mas na verdade melhora a qualidade do cuidado dos pacientes e faz com que os hospitais funcionem bem.

Os faxineiros que são assim sabem que todas estas formas de interação humana, envolvendo gentileza, cuidado e empatia, são partes essenciais do trabalho mesmo sem que haja uma só palavra na sua descrição de trabalho sobre outros seres humanos. Estes faxineiros têm a vontade moral de fazer o que é certo pelas outras pessoas e, além disso, têm a habilidade moral de perceber o que "fazer o que é certo" significa.

Aristóteles disse que "sabedoria prática é a combinação de vontade moral e habilidade moral". Uma pessoa sábia percebe quando e como abrir uma exceção a cada regra, como os faxineiros sabiam quando ignorar os deveres do trabalho em função de outros objetivos. Uma pessoa sábia sabe como improvisar, como um músico de jazz usando as notas musicais de uma página mas dançando ao redor delas, inventando combinações apropriadas para a situação e as pessoas à sua volta. Uma pessoa sábia sabe como usar habilidades morais a serviço dos objetivos corretos, para servir outras pessoas e não para manipular. E, talvez o mais importante, uma pessoa sábia é criada, não nasce pronta. Você precisa ter tempo para conhecer as pessoas que você está servindo, ter permissão para improvisar, tentar coisas novas, falhar ocasionalmente e aprender com suas falhas. E você precisa ser monitorado por mentores sábios. Não é necessário ser brilhante para ser sábio, mas sem sabedoria, brilhantismo não é suficiente."

Regras
Um pai e seu filho de 7 anos assistiam um jogo no estádio quando o filho pediu uma limonada. No quiosque só tinham a "Limonada Forte do Mike". O pai, professor da Universidade, não fazia a menor idéia que a "Limonada Forte do Mike" tinha 5% álcool. Quando um guarda viu o garoto tomando-a, chamou a polícia, que chamou a ambulância, que carregou o menino até o hospital. Na sala de emergência constatou-se que o garoto não tinha álcool no sangue e o garoto poderia ser liberado. Mas não tão rápido. O Serviço de Proteção ao Bem-Estar Infantil disse "não" e a criança foi enviada a uma família que acolhe crianças com problemas por 3 dias. Após esse tempo, o juiz disse que a criança poderia ir para casa mas somente se o pai deixasse a casa e fosse para um hotel. Após 2 semanas a família foi reunida, mas os assistentes sociais, o pessoal da ambulância e o juiz todos disseram a mesma coisa: "Nós detestamos fazer estas coisas, mas precisamos seguir as regras".

Scott Simon, que contou esta história na NPR, disse " regras podem ser idiotas, mas elas te poupam do trabalho de pensar". As regras são com frequência impostas porque pessoas foram pouco cuidadosas antes e deixaram crianças voltarem a um lar onde eram maltratadas. Quando as coisas vão mal, buscamos 2 intrumentos para consertá-las.

  1. Regras - regras melhores, mais regras
  2. Incentivos - incentivos melhores e em maior número
    O que acontece quando nós nos voltamos mais para as regras, é que regras e incentivos podem melhorar as coisas a curto prazo, mas acabam criando uma espiral descendente, que torna as coisas piores a longo prazo. A habilidade moral acaba sendo desgastada pela confiança excessiva em regras que nos privam da oportunidade de improvisar e aprender com nossas improvisações. E aí a vontade moral é minada por um apelo incessante a incentivos que destroem a nossa vontade de fazer as coisas corretamente.
Um outro exemplo de guerra contra as habilidades morais é a natureza da educação americana moderna: Currículo escolar seguindo roteiros rígidos. Em toda Chicago, em todo jardim de infância da cidade, todos os professores estão dizendo as mesmas palavras, da mesma maneira, no mesmo dia. Nós sabemos por que estes roteiros estão lá. Nós não confiamos suficientemente na capacidade de julgamento dos professores para deixá-los ensinando por si próprios. Roteiros como este são uma espécie de "seguro" contra desastres, e eles impedem desastres. Mas o que asseguram, ao invés do desastre, é mediocridade. Nós precisamos de regras! Mas regras em excesso impedem que músicos de jazz talentosos improvisem. E, como resultado, eles perdem o seu talento, ou pior ainda, param completamente de tocar.

Incentivos
Se você tem uma razão para fazer algo, e eu lhe dou uma segunda razão para fazer a mesma coisa, parece lógico que duas razões são melhor que uma e você tem mais probabilidade de fazer a tal coisa. Porém, algumas vezes as duas razões para fazer a mesma coisa parecem competir entre elas, ao invés de se complementarem, e tornam menos provável que as pessoas façam a coisa. Na Suíça, há cerca de 15 anos atrás, estavam tentando decidir aonde colocar os depósitos de lixo nuclear. Alguns psicólogos fizeram perguntas para cidadãos bem informados em diferentes áreas do País. Eles perguntaram, "você aceita ter um deposito de lixo nuclear na sua comunidade?" Surpreendentemente, 50% dos cidadãos disseram que sim. Eles sabiam que era perigoso, que iria diminuir o valor das suas moradias, mas o lixo tinha que ir para algum lugar e eles tinham responsabilidades, enquanto cidadãos. Os psicólogos perguntaram a outras pessoas uma questão ligeiramente diferente: "se nós pagarmos 6 semanas de salário por ano à você, você aceitaria ter um deposito de lixo nuclear na sua comunidade?" Duas razões. É minha responsabilidade e estou sendo pago. Ao invés de 50% dizendo que sim, 25% disseram que sim. No segundo em que a introdução de um incentivo chega a nós, ao invés de perguntarmos, "qual é a minha responsabilidade?", tudo que nós perguntamos é "o que serve a meus interesses?" Quando incentivos não funcionam, quando presidentes de empresas ignoram a saúde a longo prazo das suas companhias, perseguindo ganhos de curto prazo que levarão ao ganho de bônus enormes, a resposta é sempre a mesma. Consiga incentivos mais espertos. A verdade é que não há incentivos que serão sempre suficientemente espertos. Todo sistema de incentivos pode ser subvertido pela má fé. Nós necessitamos de incentivos. As pessoas precisam ganhar a vida. Mas confiança excessiva em incentivos desmoraliza qualquer atividade profissional, nos dois sentidos do termo. Faz com que as pessoas engajadas na atividade percam o moral, e causa a perda da moralidade da própria atividade.

Barack Obama disse, antes de sua posse, "Nós temos que perguntar não somente: 'isto vai trazer lucro?', mas também 'isto é correto'?" E quando profissões são desmoralizadas todo mundo que trabalha nelas fica viciado em incentivos, e eles param de perguntar: “isto é correto?" É obvio que esta não é a maneira pela qual as pessoas querem trabalhar.

O que podemos fazer?
Algumas fontes de esperança: Nós temos que tentar "re-moralizar" o trabalho. Uma maneira de não fazer isto: mais cursos de ética. Não há maneira melhor de mostrar às pessoas que você não é sério do que juntar tudo o que você quer dizer sobre ética num pacotinho com um laço de fita, e consigná-lo às margens de um curso de ética.

Ao invés disto? Um: celebrar exemplos de moralidade. Pessoas se inspiram com heróis morais. Mas nós aprendemos que, com sofisticação intelectual vem o entendimento de que nos não podemos admitir que temos heróis morais. Bom, admitamos eles, então. Fiquemos orgulhosos de tê-los. Comemoremos eles. E exijamos que pessoas que ensinam os admitam e os comemorem também. Isto é a coisa mais importante que podemos fazer. Aaron Feuerstein, que manteve seus funcionários na folha de pagamento mesmo após um incêncio, Ray Anderson, que transformou uma parte de um Império do Mal num negocio de emissão quase neutra de carbono, Willie Smits, que, de várias maneiras, é o exemplo perfeito, todos eles são exemplos de um herói moral. Portanto, há muitas coisas aqui no TED, e em outros lugares, para comemorarmos. E não é necessário ser um mega-herói. Ha heróis comuns. Heróis comuns, como os faxineiros, que devemos comemorar também. Como profissionais, cada um de nós deve fazer um esforço para ser um herói comum, ou se possível, fora do comum. Como chefes de organizações, nos esforçamos para criar meio-ambientes que encorajam e nutrem as habilidades morais e a determinação moral. Mesmo as pessoas mais sábias e melhor intencionadas desistem, se elas têm que nadar contra a corrente nas organizações onde elas trabalham. A verdade é que qualquer trabalho que envolve interação com outras pessoas é um trabalho moral. E qualquer trabalho moral depende de sabedora prática.

E, talvez mais importante, como professores, nós devemos nos esforçar para ser heróis comuns, exemplos morais para as pessoas das quais somos mentores. Bill Gates falou sobre a importância da educação e, em particular, do modelo que a KIPP esta nos dando, "Conhecimento é poder", pegando garotos de áreas desfavorecidas e direcioná-los para uma Universidade. Eles perceberam que a coisa mais importante que os garotos precisam aprender é caráter. Eles precisam aprender a respeitar a si próprios. Eles precisam aprender a respeitar os seus colegas de escola. Precisam aprender a respeitar seus professores. E mais importante que tudo, precisam aprender a respeitar o ato de aprender. Este é o principal objetivo. Se você faz isto, as outras coisas fluem com facilidade. E aos professores: a maneira como vocês ensinam estas coisas aos garotos é ter professores e membros da equipe encarnando isto a cada minuto de cada dia.

A virtude que eu acho que precisamos, acima de todas, é sabedoria prática, pois é a que permite que todas as outras virtudes - honestidade, gentileza, coragem - sejam mostradas no momento certo e da maneira certa. Eu acho que há razão para se ter esperança. Eu acho que as pessoas querem ser virtuosas.

De várias formas, esta é a razão principal da TED. Querer fazer as coisas que são certas, da maneira certa, pelas razões certas. Este tipo de sabedoria está ao alcance de cada um de nós, basta que comecemos a prestar atenção. Prestar atenção ao que fazemos, e como o fazemos, e, talvez mais importante, à estrutura das organizações para as quais trabalhamos, para ter certeza que elas nos auxiliam, e às outras pessoas, a desenvolver sabedoria, ao invés de suprimi-la.

Resumindo
- Uma pessoa sábia percebe quando e como abrir uma exceção a cada regra
- Uma pessoa sábia sabe como improvisar
- Uma pessoa sábia sabe como usar habilidades morais a serviço dos objetivos corretos, para servir outras pessoas e não para manipular
- Uma pessoa sábia é criada, não nasce pronta
- Não é necessário ser brilhante para ser sábio, mas sem sabedoria, brilhantismo não é suficiente
- Regras podem ser idiotas, mas elas te poupam do trabalho de pensar
- Regras e incentivos podem melhorar as coisas a curto prazo, mas acabam criando uma espiral descendente, que torna as coisas piores a longo prazo. A habilidade moral acaba sendo desgastada pela confiança excessiva em regras que nos privam da oportunidade de improvisar e aprender com nossas improvisações. E aí a vontade moral é minada por um apelo incessante a incentivos que destroem a nossa vontade de fazer as coisas corretamente
- O que regras asseguram, ao invés do desastre, é mediocridade
- A coisa mais importante que os garotos precisam aprender é caráter. Eles precisam aprender a respeitar a si próprios, os seus colegas de escola, seus professores. E mais importante que tudo, precisam aprender a respeitar o ato de aprender. Este é o principal objetivo.
- Fazer as coisas que são certas, da maneira certa, pelas razões certas e ter certeza que elas nos auxiliam, e às outras pessoas, a desenvolver sabedoria, ao invés de suprimi-la

sábado, 13 de junho de 2009

HBR: Peter Bregman - Como se Conter e Como Usar o Estresse a seu Favor

Li um artigo muito bom na HBR (Harvard Business Review - blogs.harvardbusiness.org) do Peter Bregman, "How to Teach Yourself Restraint", que seria algo como "Como se Ensinar a se Conter".

Quando sua filha Isabelle de 7 anos começou a chorar no começo da manhã porque seu irmão mais novo de 2 anos Daniel lhe tirou as canetinhas com que desenhava, Peter usou o discurso típico de pai: "Ele tem só dois anos docinho; o desenho já está bonito assim; você precisa parar de desenhar de qualquer forma, é hora do café da manhã; você tem um monte de outras canetinhas; OK, já chega - pare de chorar". Nada deu certo. Então Peter se lembrou de uma pesquisa que tinha lido. E perguntou: "Isabelle, essa é a nova camiseta que você está usando?". "Sim", ela respondeu, ainda chorando. "E quem é essa pessoa na frente?" Ela olhou a sua camiseta e disse "Obama." E não estava chorando agora. "O quê? Não mesmo. É uma mulher! O Obama usa um colar de pérolas?", Peter perguntou. Isabelle riu.

A Pesquisa do Marshmallow
A pesquisa que Peter lembrou é um famoso experimento conduzido em crianças de 4 anos nos anos 60 por Walter Mischel. Ele colocou um marshmallow em uma mesa em frente a uma criança e disse que precisava sair da sala por alguns minutos. A criança podia comer um marshmallow, mas se ela esperasse até que ele retornasse ele lhe daria 2 marshmallows. Então ele saiu e deixou uma câmera escondida filmando a criança. Ele estava interessado em saber o que permitia algumas crianças a postergar a gratificação enquanto outras se rendiam a elas. Conforme descoberto posteriormente, as crianças que conseguiram aguardar os 20 minutos e receberam 2 marshmallows tinhas melhores relacionamentos, eram mais seguras e até tiravam notas melhores do que as crianças que não conseguiram resistir ao marshmallow.

Joachim de Posada repetiu o experimento na Colômbia. Repetindo os resultados de Mischel, 2 de cada 3 crianças comiam não resistiam ao marshmallow. Ele ainda reforça que postergar a gratificação, a autodisciplina, é a habilidade mais importante para o sucesso em qualquer área. Um vendedor que em vez de fechar a venda logo para e analisa, "vamos ver se isso é realmente o melhor para você", vende mais. Seus comentários estão no TED, em um vídeo de 5 minutos.

Qual era o segredo das crianças que resistiram? As crianças tinham mais força de vontade? Mais disciplina? Talvez elas não gostassem tanto de doce? Ou tinham medo da autoridade? Nada disso. Era uma técnica, a mesma que Peter usou com Isabelle.

Distração.

Em vez de focar em não comer o marshmallow, as crianças cobriam seus olhos, sentavam de baixo da mesa ou cantavam uma canção. Elas não resistiam ao impulso, elas simplesmente o evitavam.

Os Desafios do Comportamento
Enfrentamos dois desafios quando tentamos gerenciar nosso comportamento: o desafio da iniciativa - fazer exercícios, uma ligação, trabalhar mais uma hora na apresentação - e o desafio da contingência - não comer aquele bolo, não falar tanto naquela reunião, não gritar, não resolver o problema do empregado por ele. Se somos bons no desafio da iniciativa, significa que somos bons nos aplicando, focando, quebrando resistências usando a força de vontade, ou seja, somos bons em evitar distrações. Isto, como mostrado pelo experimento, é exatamente o que nos leva a falhar no desafio da contingência. Focar em resistir à tentação só torna mais difícil resistir. No caso de comer o bolo, focar em não comer usando a força de vontade só torna mais provável que comeremos o bolo. É como dizer não pense em um grande elefante branco. Impossível, certo? O truque é se distrair focando-se inteiramente em outra coisa.

A regra é simples: quando você quer fazer algo, foque. Quando não quiser fazer algo, distraia.

A distração é vista como algo negativo, que nos atrapalha em atingir nossos objetivos. O foco, por outro lado, é visto como positivo e ativo, algo que você faz para atingir seus objetivos. Mas a habilidade da distração é importante hoje mais do que nunca. Vivemos em uma era de medo - gripe suína, terrorismo, aquecimento global, sequestros, a economia - que reduz nossa produtividade e destroi nossa saúde, relacionamentos e felicidade. Infelizmente, quanto mais temos medo mais lemos sobre a fonte do medo em uma tentativa de nos proteger. A solução? Distração. Leia um bom livro, assista a um filme, brinque com uma criança de 4 anos, cozinhe com os amigos, faça uma caminhada, se jogue no trabalho. A distração é, de fato, a mesma coisa que foco. Para se distrair de X você precisa focar em Y.

Reação ao Stress
Em outro artigo, Peter comenta sobre o stress. Seu amigo sempre lhe envia diversos artigos sobre economia e, mesmo isto não levando a nenhuma mudança em suas ações, ele continua os lendo. Primeiro porque o próximo artigo pode dar algum insight que outros não deram - o segredo de sair bem da crise. Segundo porque buscar esse insight nos dá uma sensação de conforte e controle. Dá algo para fazer. Estamos lendo, estamos pensando, discutindo, desenvolvendo opiniões. Isto faz com que nos sintamos melhor. É nossa Reação ao Estresse, o que nós fazemos para nos gerenciar em períodos duros de stress. E não é um evento estressante em particular, como uma discussão, mas o tipo de estresse corrente que é impossível de apontar ou colocar em um evento ou pessoa em particular.

Como você responde à sua vida estressante? Qual a sua Reação ao Estresse? Peter cortou seu cabelo bem curto. Por curiosidade, quando olhou suas fotos antigas para ver em que situações cortou seu cabelo bem curto foram quando ele começou seu negócio, durante a crise .com e próximo dos nascimentos de seus 3 filhos. Cortar o cabelo curto era uma de suas Reações ao Estresse. Isto dava uma ilusão de controle, assim como toda vez em que ele tinha uma grande proposta para escrever - no primeiro dia ele sempre limpava a casa.

Reações Destrutivas
A Reação ao estresse pode ser uma ferramenta útil para manter o foco e manter a habilidade para se mover em tempos de incerteza. Uma sensação de controle não tem valor quando nos falta o controle real. Algumas Reações ao Estresse são destrutivas, aumentam nosso estresse ao invés de reduzi-lo. Um exemplo de reação destrutiva é o microgerenciamento. Para aumentar as vendas, um gerente pressiona sua equipe a fazer mais relatórios, faz sugestões para tudo e . Gastando tempo escrevendo relatórios a equipe de vendas deixa de vender, sente-se frustrada, impotente, insegura, o número de vendas cai e o estresse acaba aumentando, aumentando a Reação ao Estresse e assim por diante. Outra reação destrutiva é a retirada (abstensão, withdrawal). Deixamos de nos envolver, ficamos indiferentes, ocupados com outras coisas. Nos escondemos nos escritórios, evitamos nos comunicar. Uma terceira reação é ficar competitivo demais. O que pode ser feito com relação a reações destrutivas?

Pare.

Sente-se, desligue o computador, respire fundo e pergunte-se "Como eu estou lidando com o estresse?" Tente reconhecer sua tendência ao estresse. Como você reage? Se não sabe ao certo, pergunte às pessoas ao seu redor. Eles saberão. Então pergunte-se se isso ajuda ou faz mal. Se ajuda, continue, coloque-a no seu processo. Mas se faz mal, então respire fundo outra vez e tire uma folga. Ficar frustrado só vai fazê-lo se sentir pior, e ficar frustrado por ficar frustado consigo mesmo vai fazê-lo ainda pior.

O bom é que perceber sua Reação ao Estresse é tudo o que você pode fazer conscientemente. O resto na maioria das vezes cuida de si mesmo. Uma vez que você perceba isso, você automaticamente começará a mitigá-lo. E você não precisa necessariamente parar o comportamento completamente. Algumas reações podem até ajudar mesmo que se demais podem atrapalhar. Apenas lembre-se de parar. E perceber.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Por que a gente (alunos de Engenharia) é assim? O que podemos fazer?

Há um texto famoso, ao menos entre nós Engenheiros Eletricistas pela UEL, do Ênio Padilha, intitulado "Por que é que a gente é assim?". O texto está no blog da Elétrica da UEL e mostra muito bem pelo que passa um estudante de Engenharia. Acostumado a estar sempre entre os melhores da turma, ser sonhador e ter vontade de construir, ao entrar na faculdade leva um choque de desânimo, sensação de impotência e fica relegado a notas que tendem a zero. Posto aqui minhas considerações sobre o texto do Ênio Padilha e algumas ações ou comportamentos que podem ser adotados, já que o texto não tenta solucionar a questão deixando, a meu ver, um clima meio pessimista em suas conclusões.

Por tudo o que li, ouvi e vivi, só criticar nunca melhorou a vida de ninguém. Eu espero, assim, que a palestra do Ênio não seja apenas para expor de forma bonita as críticas ao sistema público de ensino que todos nós já sabemos, muito bem por sinal.

Macacos Velhos e Macacos Novos
Uma amiga me contou de uma história muito interessante sobre comportamentos herdados. Foi feita uma pesquisa com 4 macacos. Uma banana foi colocada em um lugar de alcance relativamente fácil para qualquer macaco. No entanto, toda vez que um macaco tentava pegá-la, os outros 3 levavam choque. Passado um tempo, toda vez que um macaco tentava pegar a banana, os outros 3 o espancavam. Então, trocaram 1 macaco velho por 1 macaco novo, que não conhecia as regras. O macaco novo, ao tentar pegar a banana, era, naturalmente, espancado. Então trocaram outro macaco velho. No final, havia 4 macacos novos que nunca tinham levado um choque sequer se espancando toda vez que um deles tentava pegar a banana.

Eu acredito que alguns professores se comportam como macacos velhos, e alguns jovens professores vão decidir se tornar como eles. Os professores, por terem sofrido muito na época de sua graduação, acabam achando que esse é o comportamento padrão: "ferrar com os alunos - esses folgados!", e perpetuam-no, ao invés de pensarem "não precisa ser assim". Professores universitários, por sinal, têm, na minha opinião, uma posição muito confortável. Em qual outra profissão o cargo de chefia pode ser rotativo para que todos possam ganhar o adicional? O professor que quer realmente realizar algo tem todas condições para fazê-lo na universidade: verbas, bolsas, bases de dados, contatos. Curiosamente, o professor que não quiser fazer nada também vai encontrar na mesma universidade todas as condições para isso.

Alunos Bons e Alunos Não-tão-bons-assim
Vou colocar também uma outra história que li no livro do Stephen Covey. Em uma universidade, no início do ano, um software classificava os alunos como bons ou ruins. Em uma turma eram colocados somente os classificados como bons, e em outra somentes os classificados como ruins. Um pesquisador inseriu um erro proposital no software de modo a classificar os alunos ruins como bons e os bons como ruins e ver o que acontecia. No final do semestre, os alunos classificados como ruins tinham apresentado rendimento melhor do que os alunos classificados como bons. Então perguntaram aos professores, "como foi o semestre?" Eles responderam "No início foi terrível. A turma não estava indo bem, mas quando olhávamos o software víamos que eles eram os alunos bons. Então acreditamos que havia algum erro no nosso método e fizemos algumas alterações até que eles obtiveram resultados melhroes". Sim, é possível! ("Yes We Can!")

No entanto, a boa vontade dos professores não é algo que está ao nosso alcance, não é algo que nós podemos controlar, embora possamos influenciar e tentar. É difícil, eu já tentei e do jeito que eu fiz não funcionou e acabou gerando apenas desgaste em um arrependimento de minha parte, mas não digo que é impossível. Se a palestra for apenas para criticar os professores, então esse encontro, a meu ver, vai acabar sendo apenas um fórum de desabafo, em que vamos apenas ganhar 1 minuto de conforto quando expormos nossos sofrimentos, e então voltaremos ao mesmo sofrimento dia após dia ao sairmos de lá.

O Que Podemos Fazer
Portanto, eu acredito que a melhor saída á atuarmos dentro do nosso círculo de influência, dentro daquilo que podemos controlar, e gradualmente aumentar nosso círculo. Algumas saídas, na minha opinião, são:

1) Criar um profundo respeito pelo processo de aprendizado e encontrar o que funciona para você
Todos nós somos diferentes, e é aí que está a beleza do mundo. Cada um aprende de um jeito, escrevendo, lendo, falando, repetindo. Além disso, há diversas formas diferentes de explicar e ouvir algo. E há uma grande diferença entre estudar e aprender. O que eu percebo nas pessoas que vão bem no curso é que elas não se importam tanto em estudar, mas se importam em aprender. E quando não entedem algo, isso vira um desafio e elas ficam loucas para tentar resolver - vão ver nos livros, perguntam para os amigos e perguntam, sim, para o professor, que quando está com tempo tenta explicar ou indica alguma referência. Mas se alguém chegar lá e dizer "professor, me explica tudo que eu não sei nada", vai deixar a impressão de folgado, mesmo que não seja, o que cria repulsa do professor. É natural, ele foi condicionado assim.

2) Criar um respeito sincero pelo professor e compreender realmente quais são suas necessidades, inclusive emocionais
Embora alguns professores digam que nós aprendemos sozinhos, estudando em casa, eles podem ser de grande ajuda. E muitas vezes um comportamento agressivo vem de uma falta de atenção (quem tem namorada deve saber isso). Não importa se o professor é bom ou ruim, legal ou carrasco, nós não podemos mudá-lo da água para o vinho, do dia para a noite. Mas podemos escolher como reagimos ao comportamento dele. Podemos responder com agressividade e realimentar o processo, ou podemos tentar compreender e reverter o processo. Segundo Covey, compreender suas idéias e explicações explicando-as melhor do que eles. No CEFET de Cornélio nós tínhamos um professor meio mala, de quem poucos gostavam. No ano seguinte, minha irmã e as amigas delas, uma vez, por brincadeira e por aventura, deram um bolo de aniversário pra ele e cantaram parabéns na sala dele. Ele disse "nossa, nunca ninguém fez isso pra mim". No dia seguinte ele levou uma bandeja de brigadeiros na sala. Isso é história real. Como vocês acham que ficou o relacionamento entre professor e turma depois disso?

3) Estabelecer contatos, como alunos, com entidades fora da Universidade, expandir nosso universo de atuação
Os professores têm dificuldade de estabelecer contato com o mercado, não é falta de vontade, é uma dificuldade mesmo. Há diferenças no estilo de comunicação, ao que dar valor ou ou não, no processo de desenvolvimento. Sabe quem conseguiria entender os dois? Nós. Imaginem que pesquisas poderiam ser feitas no DEEL, imaginem quantos estágios poderiam ser feitos, quantas coisas poderiam ser feitas simultaneamente e em conjunto, quantos produtos seriam desenvolvidos no DEEL se houvesse uma relação mais próxima com entidades fora da Universidade. E esse vínculo não depende só da boa vontade de professores. Nós, como alunos, amigos, filhos, primos, sobrinhos, Empresa Júnior e Centro Acadêmico podemos ajudar.

4) União, colaboração e benefício comum
Ajudem-se. Na Unicamp, quando um professor é uma droga, os alunos se juntam, estudam por si, ensinam uns aos outros e todo mundo sai feliz - e o melhor, autoconfiantes. Se o professor é realmente ruim, e não consegue melhorar, podemos negociar uma aula tira-dúvida e encarar a realidade, há muitas opções, quando estamos unidos e voltados para o benefício comum.

5) O que você quer para a sua vida?
Como você quer ser lembrado? Que realizações, conquistas você quer? Que contribuições você quer deixar para o mundo? Quais são seus valores? Como você quer estar daqui 15 anos? Nosso curso é um curso técnico. Se você quer ser empresário, você tem que fazer a parte técnica e fazer a mais - cursos, empresa júnior -, se você quer ser pesquisador, você tem que fazer a mais - iniciação científica, mestrado. O importante é dar o seu melhor naquilo que você escolher. Não existe profissão de sucesso, existe profissional de sucesso. Mas se você quer ser advogado, não importa quão bem você se dê na Engenharia, você vai ter que fazer Direito - no bom sentido.

Fico aberto a quaisquer questionamentos. Mandem por email, postem aqui, sei lá. Discutindo chegamos a idéias melhores.