quinta-feira, 28 de maio de 2009

TED: Barry Schwartz e o Paradoxo da Escolha


Assisti a um vídeo muito interessante no TED, por Barry Schwartz, sobre o Paradoxo da Escolha. TED significa Technology, Entertainment, Design e foi iniciado em 1984 como uma conferência reunindo pessoas desses três mundos. Desde então, seu escopo tem se tornado cada vez mais abrangente. A conferência anual atualmente reúne os mais fascinantes pensadores e realizadores, que são desafiados a dar uma palestra de suas vidas (em 18 minutos). Mais de 400 palestras estão disponíveis para o mundo gratuitamente e novas são adicionadas a cada semana. Alguns vídeos do TED estão legendados no site DotSUB, no qual a comunidade pode incluir legendas em diversos idiomas de forma colaborativa.

Schwartz sugere que existe um dogma oficial corrente - para maximizar a prosperidade, maximize a liberdade individual - a liberdade é boa, valiosa, essencial, com cada um podendo agir em sua própria liberdade - e maximize o número de escolhas. Esse dogma está profundamente enraigado - não há questionamentos.

Cenário
Em um supermercado, há 175 tipos de temperos para salada. Em uma loja de eletrônicos comum, pode-se montar 6,5 milhões de opções diferentes de um aparelho de som estéreo! Se você perguntar em uma loja se há um telefone que não tenha muitas funções, a resposta será não. No sistema atual de saúde, o médico diz ao paciente - "A tem esses benefícios e esses riscos, B tem esses benefícios e esses riscos. O que você quer fazer?". Essa autonomia do paciente desloca o peso da responsabilidade da tomada de decisão do algúem que sabe alguma coisa - o médico - para alguém que está doente - o paciente - e que pode não estar em condições de tomar uma boa decisão.

A identidade é uma questão de escolha. Toda manhã acordamos e podemos decidir que tipo de pessoa nós queremos ser, podemos nos reinventar. A tecnologia nos permite trabalhar a qualquer minuto de qualquer dia em qualquer lugar do mundo o que nos leva sempre a decidir se nós deveríamos estar ou não estar trabalhando. E quando perguntam se todas essas coisas são boas notícias ou más notícias, a resposta é "sim".

Todo esse volume de escolhas tem 2 efeitos:

1 - Gera paralisia em vez de liberação

Com muitas opções, fica mais difícil escolher. Em um estudo com planos de aposentadoria voluntária, a cada 10 fundos mútuos ofertados 2% menos empregados aderiam ao programa. O número de opções era tão grande que tornava-se muito difícil escolher. Então as pessoas adiavam a decisão para amanhã, e depois para amanhã e esse amanhã nunca chegava. Com opções demais, torna-se muito difícil escolher e todos querem tomar a decisão certa se é para a eternidade.

2 - Se nós superamos a paralisia e fazemos uma escolha, nós terminamos menos satisfeitos com o resultado da escolha do que se houvesse menos opções

Com tantas opções e alternativas, é fácil imaginar que você poderia ter feito uma decisão que teria sido melhor. Alternativas imaginadas induz a arrepender-se da decisão mesmo se ela foi uma boa decisão. O custo de oportunidade é subtraído da satisfação da decisão mesmo se ela foi muito boa. Quanto mais opções a se considerar, mais características atraentes de opções serão refletidas sobre nós por custos de oportunidade. Fazer coisas é escolher não fazer outras.

Com tantas opções, as pessoas usualmente fazem escolhas melhores mas mesmo assim se sentem piores. Isto pode ser explicado pela expectativa. Com apenas uma opção, não há qualquer expectativa de quão boa ela será. Já com muitas opções, as expectativas de quão boas as opções são aumentam. Uma vez feita a escolha, as pessoas comparam a expectativa que tinham com a escolha que fizeram e ficam frustradas. Hoje, com mais opções, as pessoas ficam mais frustradas. Isso leva a pensar que antigamente, quando tudo era pior, tudo estava melhor. Antigamente era possível ter uma surpresa prazerosa, enquanto hoje nossas expectativas estão no céu. O segredo da felicidade, assim, é ter baixas expectativas.

Consequência
Com apenas uma opção, se a pessoa não fica satisfeita e se pergunta "de quem é a culpa?", o responsável é claramente "o mundo" - "o que eu poderia fazer?". Com muitas opções, se a pessoa não fica satisfeita e se pergunta "de quem é a culpa?", a resposta é com a mesma clareza "você", "você poderia ter escolhido melhor". Não há desculpas para a falha. Mesmo se os resultados da decisão forem bons, as pessoas se sentem desapontadas e se culpam. Isto gera uma experiência de desapontamento devido aos padrões serem altos e quando as pessoas tentam explicar para si o que sentiram elas pensam que é sua culpa. Isto, segundo Schwartz, é um fator que contribui significativamente com o aumento da depressão clínica no mundo.

Resumindo
Por que as escolhas fazem as pessoas se sentirem mal?
  1. Remorso e remorso antecipado
  2. Custos de oportunidade
  3. Escalada das expectativas
  4. Auto-culpa
O resultado líquido é que fazemos escolhas melhores em geral e nos sentimos pior.

O dogma oficial:
- Maximizar prosperidade
- significa maximizar liberdade
- que significa maximizar escolhas
- mais escolhas significa mais liberdade
- mais liberdade significa mais prosperidade
- ERRADO!

Ter algumas escolhas é melhor do que não ter nenhuma, mas ter mais escolhas não é melhor do que ter algumas. Escolhas caras e complicadas não ajudam, na realidade atrapalha. Se alguma parte do que permite às pessoas em nossa sociedade fazerem todas as escolhas que fazemos fosse deslocada para as sociedades nas quais as pessoas tem pouquíssimas escolhas, não só as vidas destas pessoas mas também as nossas seriam melhoradas. Os economistas chamam isso de Pareto-improving move - a redistribuição da renda vai melhorar a situação de todos, não só das pessoas pobres.

Schwartz encerra sua palestra com a figura no início do post. Nela, um peixe diz a outro "você pode ser o que quiser ... não há limites". À primeira vista, a figura parece uma imaginação empobrecida, uma visão miópica do mundo. Como tudo é possível fechado dentro de um aquário? No entanto, com uma análise mais apurada esse peixe sabe algo. Se o aquário for quebrado de forma que tudo seja possível, não haverá liberdade - haverá paralisia. Um aumento da paralisia e uma diminuição da satisfação.

Schwartz encerra: "Todos precisamos de um aquário - o da imagem é muito limitado, talvez mesmo para o peixe, certamente para nós, mas a ausência de algum aquário metafórico é uma receita para angústia e, eu suponho, o desastre."

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